quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre a amizade...

Antes de qualquer coisa, desculpem o atraso. Hoje quero falar sobre um tema que tem sido muito relegado a segundo plano na nossa sociedade: a amizade.

Várias pessoas (coachees ou não) acima dos 40 anos já me confessaram que sentem uma solidão profunda. No início, essa solidão aparecia vez ou outra, geralmente quando a pessoa tirava um tempo para descansar, e foi se tornando cada vez mais feqüente, até que passou a ser um sentimento quase constante. Quando faço mais perguntas sobre isso, as pessoas me confessam que podem contar nos dedos a quantidade de amigos que tem. Quando pergunto mais ainda, essas pessoas me falam que a última vez que saíram com algum desses amigos foi há mais de três meses. Antes de eu poder perguntar mais alguma coisa, as pessoas já se adiantam e falam que tem uma boa relação com a família e com os colegas de trabalho, então a causa desse sentimento não pode ser a falta de amigos. Será que não??

O que é a amizade? Na minha concepção, amigos são pessoas ao lado das quais nós podemos ser felizes, pessoas para as quais podemos mostrar quem realmente somos e sermos aceitos apesar dos defeitos, pessoas que ficam alegres com a nossa presença e cuja presença nos alegra. Isto implica retirar as máscaras, conversar com sinceridade, escutar e deixar ser escutado. Essa concepção é o oposto de solidão, que significa sentir-se sozinho. Para a maioria das pessoas, a relação que elas tem com os colegas de trabalho ou com a família não é suficiente, pois apesar de terem boas relações nesses domínios, ainda assim se sentem sozinhas.

Então, como se constrói amizade? A reposta é extremamente complicada: experiência compartilhada. Significa fazer coisas junto com outras pessoas, passar tempo junto, mesmo que não seja de forma presencial - pode ser uma conversa por telefone, messenger, skype, um jogo online etc. Parece simples, mas para pessoas que trabalham 12-14 horas (ou mais) por dia, não é nada fácil, e são essas pessoas as que mais sentem solidão. São vítimas do "não tenho tempo", que é uma das maiores mazelas sociais da atualidade. Não tem tempo para descansar, não tem tempo para refletir, não tem tempo para se divertir, não tem tempo para passar com outras pessoas e às vezes não tem tempo nem para ir ao médico quando precisam.

A minha teoria sobre o assunto é que essa situação vai se escalando aos poucos, e quando a pessoa começa a sentir que está perdendo felicidade em outros domínios da vida, ela (sem perceber) passa a se dedicar ainda mais ao trabalho, para não ter tempo nem de pensar sobre o assunto. Mas, uma hora, esses sentimentos acumulados não podem mais ser suprimidos e passam a atormentar a pessoa todas as horas do dia.

Infelizmente, tempo não é dinheiro, tempo é muito mais que dinheiro, porque é a única "commodity" limitada. Você nasce com um certo tempo de vida disponível, e não importa o que você faça, esse tempo não vai aumentar, então será que vale a pena doar 14 horas do seu dia para o trabalho? Será que não seria mais valioso abrir mão de algumas dessas horas e chamar seus amigos ou sua família para ir ao cinema? As respostas mais comuns são "não é uma escolha minha", ou "o mercado exige isso", ou "você não conhece o meu chefe..." Na prática, depois de mais alguns questionamentos, as respostas quase sempre se resumem a: "não quero (porque tenho medo), então me convenço de que não posso".

A questão é que, no fim das contas, é escolha nossa sim, é exclusivamente nossa, mas alguns não reconhecem isso, porque não querem assumir o peso de escolher, ou porque tem medo da liberdade que vão ganhar.

Muitas vezes, deixo de assistir filmes porque meus amigos não estão disponíveis no momento, e brigo com eles se depois eles assistirem sem mim. Por que? Porque não tem significado fazer coisas sozinho. Significado é algo que só se estabelece na relação com pessoas, e existem significados que só a amizade permite construir. Na minha opinião, nada substitui a amizade.