segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Intenção e Ação

É muito comum encontrar coachees relatando que querem fazer algo, mas não conseguem. Não porque não sabem fazer, mas simplesmente porque não fazem. Mas querem. Mas não fazem. Contraditório? Sim, porém muito mais comum do que se imagina.

Pessoas que querem ter um corpo mais bonito, se matriculam em uma academia e depois matam metade dos treinos. Pessoas que querem emagrecer, contratam um nutricionista e depois não seguem a dieta. Pessoas que querem ser bem sucedidas profissionalmente, se inscrevem em um curso e não estudam. Pessoas que querem um relacionamento, mas procuram. Pessoas que querem estudar ou escrever um livro (ou alguma outra atividade criativa), mas passam o dia jogando video-game ou vendo TV. Pessoas que querem ter mais contato com a família, mas dedicam 150% do seu tempo ao trabalho. Os exemplos não acabam mais.

Se você quer, por que você não toma as ações necessárias para chegar lá? O ponto em comum entre quase todos os coachees com esse tipo de problema é que eles não sabem responder essa pergunta. Muitos deles alegam uma série de impedimentos, mas quando você pergunta mais profundamente eles reconhecem que aqueles impedimentos não são realmente obstáculos, mas sim coisas que eles transformaram em desculpas para não fazer nada. Algumas vezes, isso é suficiente para provocar uma ação construtiva, mas muitas vezes eles continuam não perseguindo o que querem - e não sabem porque. Eu mesmo já passei por alguns desses problemas mais de uma vez, e sei que não é fácil.

Entretanto, existe um outro modo de olhar as coisas: ao invés de focar na escolha não feita, podemos focar nas escolhas feitas. Quando alguém escolhe outras ações, em detrimento do seu objetivo, o que ela está realmente escolhendo? Se você diz que quer algo, mas na hora de decidir você escolhe tomar ações que não te ajudam a conseguir aquilo (e muitas vezes atrapalham), como você pode dizer que realmente quer aquilo? Sabendo que as ações partem dos desejos do indivíduo, o que estas escolhas revelam sobre você? Que outras emoções não percebidas estão te levando a fazer estas escolhas?

Para este tipo de situação, uma pergunta muito poderosa, que aprendi com meu amigo Judah Reis, é: "E o que você está ganhando com essa escolha?" Porque, olhando bem, ninguém escolheria algo prejudicial a si mesmo se não estivesse ganhando algo em troca. Na minha experiência até agora, esse é o turning point de muitas sessões de coaching. Quando o coachee percebe exatamente o que ele está ganhando, tudo passa a fazer muito mais sentido, porque ele se apodera do direito de rejeitar aquele ganho, em favor do seu desejo verdadeiro, que antes ele não estava conseguindo perseguir.

Algumas vezes é uma questão de que o coachee está escolhendo o benefício de curto prazo, em detrimento do de longo prazo. Como, por exemplo, quando alguém quer ser saudável e se alimenta mal. Ele está ganhando o prazer da comida, mas não é isso que ele realmente quer a longo prazo. Claro que, neste exemplo, fica bem simples perceber, mas na prática o "ganho" costuma ser algo muito mais sutil e fugaz do que isso, porque está enraízado nas próprias distinções do coachee e em emoções que ele não percebe dentro de si.

Outro ponto muito comum neste tipo de situação é que o coachee não quer assumir responsabilidade. Nesse caso, é muito mais fácil não escolher, porque "não posso ser culpado pelo resultado de uma ação que eu não escolhi", então ele escolhe outras ações, menos arriscadas e menos trabalhosas. Colocando dessa forma, fica fácil de enxergar, mas na grande maioria das vezes o coachee não tem a menor noção de que está fazendo isso. A escolha de "não escolher" se sustenta na emocionalidade do medo. Medo da decepção, da vergonha, do desapontamento, do fracasso, uma série de medos que o impedem de agir. Inclusive o medo de olhar para dentro de si e perceber estas coisas.

Assumir responsabilidade significa colocar-se como um agente ativo dos acontecimentos. Não é uma questão de se culpar por tudo, mas sim de pensar "frente a esta situação, o que é que eu posso fazer para melhorar as coisas e atingir meus objetivos?" Citando um exemplo de Fredy Kofman, você pode dizer que se molhou porque a chuva te pegou desprevenido, ou porque você não pensou em levar um guarda-chuva. A diferença entre estas afirmações é que, na primeira, o sujeito é "a chuva", e na segunda é "eu". Na primeira, você não tinha o que fazer, enquanto na segunda, você tinha. Quando você escolhe ações que te levam na direção dos seus objetivos, você se coloca como agente ativo da vida, mas para isso tem que enfrentar os seus medos e assumir os riscos correspondentes.

Às vezes, é bom parar e se perguntar: "O que eu estou fazendo agora me aproxima ou me afasta do que eu quero atingir?" Algo a refletir.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Idade e Maturidade

Anteontem, tive uma conversa muito interessante com uma amiga minha sobre o post anterior.

Na opinião dela, existem certas coisas que exigem uma maturidade que só vem com a idade, e uma destas coisas seria justamente consguir separar o lado pessoal do profissional no coaching. Um coach contratado por uma empresa tem que saber o que tratar e o que não tratar numa sessão de coaching, afinal ele está trabalhando para auxiliar o coachee na sua performance na empresa.

Pessoalmente, pela minha experiência de trabalho com coaching, reconheço este desafio, mas acho que esta não é uma competência que depende necessariamente da idade, mas sim de o coach trabalhar em si certas distinções que permitam a ele perceber como abordar certos assuntos e como direcionar o diálogo com o coachee. Claro que a experiência ajuda bastante.

A minha modalidade principal de atuação é o life coaching (coaching pessoal), mas não pelas razões acima, e sim porque a minha missão pessoal como coach é contribuir para a felicidade das pessoas, e acredito que a melhor forma de fazer isto é trata-las de forma holística, afinal todas as esferas da vida de uma pessoa são interligadas, e é necessário um equilíbrio entre elas para que a pessoa possa se sentir integralmente realizada. Desta forma, considero a separação entre "pessoal" e "profissional", como a sociedade coloca, algo artificial e que não reflete a realidade.

Reconheço que o processo de coaching se beneficia muito da experência de vida do coach, que traz a ele uma grande bagagem para entender situações e articular distinções. Por esta razão, prefiro trabalhar com coachees na minha faixa de idade, entre 20 e 30 anos, mas as minhas experiências recentes com coachees mais velhos tem me feito questionar isto. Percebi que, no coaching pessoal, algumas vezes a diferença de idade é benéfica, pois me permite perceber a situação de formas que o coachee normalmente tem dificuldade de enxergar, e esta troca de pontos de vista é uma enorme fonte de aprendizagem no coaching.

Infelizmente, meu contrato de confidencialidade com os coachees não permite que eu traga para cá estas experiências, mas vou perguntar a alguns deles se me dão autorização para compartilhar este aprendizado, pelo menos de modo superficial.

* Distinção: Em coaching, uma distinção é definida como uma forma particular de enxergar e entender determinada situação. Muitas vezes, se não conseguimos solucionar um problema ou entender o ponto de vista de outra pessoa, é porque nos faltam as distinções adequadas. Quando vizualizamos a situação de uma forma diferente, podemos enxergar caminhos e razões que antes não conseguíamos. Um dos principais benefícios do coaching é a geração de novas distinções.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O que é coaching?

Antes de qualquer coisa, acho que devo explicar o que é essa ferramenta e para que serve.

O coaching é uma técnica conversacional utilizada para auxiliar indivíduos no desenvolvimento das distinções e habilidades necessárias para solucionar os problemas em questão, sejam problemas pessoais ou profissionais. O processo de coaching parece com uma sessão de aconselhamento, mas é diferente em profundidade e foco, pois o objetivo é gerar um compromisso de ação construtiva, que consolide a aprendizagem do coachee (cliente).

Quanto ao ambiente de atuação, o coaching pode ser dividido em duas grandes modalidades: coaching organizacional (que inclui o famoso coaching executivo) e coaching pessoal, ou coaching de vida (também chamado de life coaching).

O coaching organizacional visa ao desenvolvimento das competências profissionais e relacionais dos colaboradores chave de uma empresa, ajudando a dissolver obstáculos internos do indivíduo e atitudes prejudiciais à sua performance no cargo. Freqüentemente, a empresa é quem determina as áreas a serem trabalhadas pelo coach, com base nas fraquezas percebidas na avaliação de desempenho do colaborador, ou em novas expectativas sobre ele (como, por exemplo, preparando-o para receber uma promoção). Esta modalidade também é muito utilizada para desenvolver habilidades de decisão e liderança, sobretudo em executivos e líderes de equipe.

Já o coaching pessoal tem como finalidade auxiliar o coachee a se realizar nas diversas esferas da sua vida, de forma integrada, atingindo suas metas pessoais em domínios como trabalho, lazer, família, relacionamentos, saúde etc. O papel do coach aqui é de ajudar o coachee a equilibrar as diversas esferas da sua vida e viver de forma coerente com seus valores e propósitos. Diferente do coaching organizacional, o foco central é nas necessidades do coachee, não da empresa, mesmo que eventualmente estas necessidades possam se sobrepor (ou se chocar). É parte integrante do papel do coach ajudar o coachee a visualizar a si mesmo de forma mais clara, para que possa distinguir suas reais necessidades e compará-las com as demandas externas feitas nas diferentes esferas da sua vida.

É importante notar que o coach não está lá para realizar os objetivos do coachee, nem para tomar decisões por ele, mas sim para ajudá-lo a desenvolver as atitudes e comportamentos necessários para atingir estes objetivos. O coach deverá ajudar o coachee a assumir responsabilidade e colocar-se como agente ativo frente às circunstâncias que o cercam.

* Coach: É a pessoa que guia a sessão de coaching.
* Coachee: É o cliente, a pessoa que recebe o coaching. (O termo "receber" não é o mais adequado, já que o coaching é um processo interativo, mas não consegui pensar em outro).

Primeiros Passos

Este blog surgiu de um profundo dilema: estou para me formar e tenho apenas duas ambições profissionais - ser coach e ser consultor - porém, com os meus 24 anos, não tenho idade para ser nem uma coisa, nem outra. Tenho confiança nas minhas competências para ser tanto coach, quanto consultor, mas o perfil que o mercado espera destes profissionais é de alguém na faixa dos 30-40 anos ou mais. Depois de conversar com várias pessoas e muito refletir, cheguei à conclusão que, na prática, só tenho duas escolhas:

1) Aceitar a expectativa do mercado e trabalhar por alguns anos em cargos administrativos; ou
2) Tentar vencer o preconceito e trabalhar com as coisas que eu gosto.

Várias pessoas pensariam que a primeira opção é a melhor, e realmente é. Ou pelo menos seria se eu fosse diferente. Felizmente, graças ao coaching, me conheço bem o suficiente para saber que tenho problemas para me empenhar em algo que eu não seja apaixonado, então teria dificuldades para seguir a opção 1. Como eu acredito em sempre tentar fazer o melhor possível, só me resta uma escolha: lutar pelo que eu quero. Este blog é o registro das batalhas que eu irei enfrentar neste árduo caminho contra a corrente.